A autoria do Evangelho de Mateus tem sido um assunto de discussão e debate teológico ao longo da história da igreja. Sob uma perspectiva teológica conservadora, é essencial afirmar a visão tradicional de que Mateus, o apóstolo e ex-coletor de impostos, é de fato o autor deste Evangelho. Esta posição se alinha com os princípios da inerrância bíblica e da tradição apostólica, que sustentam a integridade e a inspiração divina das Escrituras.
Contexto histórico do chamado de Mateus
Mateus, também conhecido como Levi, foi chamado por Jesus enquanto trabalhava como cobrador de impostos em Cafarnaum (Mateus 9:9). Seu papel como publicano o colocou em uma posição única dentro da sociedade judaica; ele era frequentemente visto com desdém por seus companheiros judeus por colaborar com as autoridades romanas. Esse histórico, no entanto, forneceu a Mateus habilidades significativas que mais tarde o ajudariam a escrever o Evangelho. Como cobrador de impostos, ele provavelmente era obrigado a manter registros meticulosos e apresentar relatórios escritos, sugerindo que ele possuía um grau de alfabetização que era incomum entre seus contemporâneos.
Além disso, trabalhando em “Galileia dos Gentios”, Mateus teria familiaridade com grego e aramaico, permitindo que ele se comunicasse efetivamente através de fronteiras culturais. Essa habilidade multilíngue é refletida em seu Evangelho, que frequentemente incorpora elementos da Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento) junto com frases aramaicas e derivados hebraicos. Tal proficiência linguística apoia o argumento de que Mateus estava bem equipado para documentar os ensinamentos e ações de Jesus com precisão.
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Tradição Apostólica e Inerrância
A tradição reformada enfatiza a autoridade das Escrituras como a palavra infalível de Deus. Essa crença é fundamentada no entendimento de que os Evangelhos foram escritos por aqueles que foram testemunhas oculares ou intimamente associados a testemunhas oculares do ministério de Cristo. Irineu, um dos primeiros pais da igreja, afirmou que Mateus escreveu seu Evangelho enquanto Pedro e Paulo estavam pregando em Roma (Irineu, Contra Heresias , 3.1.1). Esse testemunho histórico reforça a noção de que o relato de Mateus está enraizado na tradição apostólica.
Além disso, o conceito de inerrância bíblica postula que a Escritura não contém erros em seus manuscritos originais. Essa crença se estende aos Evangelhos, pois eles são vistos como documentos divinamente inspirados que transmitem fielmente a revelação de Deus por meio de seus autores humanos. A autoria apostólica atribuída a Mateus empresta credibilidade a essa afirmação, pois sugere que ele escreveu sob inspiração divina enquanto extraía de suas experiências em primeira mão com Jesus.
Estilo e estrutura literária
O passado de Mateus como cobrador de impostos também influenciou seu estilo literário. Seu Evangelho é caracterizado por uma apresentação ordenada dos ensinamentos e obras de Jesus, frequentemente organizados tematicamente em vez de cronologicamente. Esse método reflete a capacidade de Mateus de sintetizar informações de forma eficiente — habilidades aprimoradas por meio de sua ocupação anterior. A natureza estruturada de sua escrita permite que temas teológicos claros surjam, como o cumprimento da profecia do Antigo Testamento por Jesus.
Além disso, os estudiosos observam que o Evangelho de Mateus contém inúmeras citações do Antigo Testamento, demonstrando sua intenção de conectar a vida e o ministério de Jesus com as expectativas judaicas do Messias. Seu uso de paráfrase — combinando elementos da Septuaginta com o aramaico — ilustra ainda mais sua profunda compreensão tanto da tradição judaica quanto do contexto greco-romano mais amplo.
Conclusão
Todos os estudiosos conservadores são unânimes em afirmar que Mateus é de fato o autor do Evangelho que leva seu nome. Sua experiência como cobrador de impostos o equipou com habilidades únicas para registrar as palavras e ações de Cristo com precisão. Juntamente com o forte testemunho histórico dos primeiros pais da igreja sobre a autoria apostólica e um compromisso inabalável com a inerrância bíblica, podemos afirmar com confiança que o Evangelho de Mateus serve como um relato confiável da vida e dos ensinamentos de Jesus Cristo. Esse entendimento não apenas honra a autoridade das Escrituras, mas também enriquece nossa apreciação por como Deus usou vários escritores bíblicos — como Mateus — para transmitir Sua mensagem divina através da história.
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