Introdução à Teologia

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ORIENTAÇÕES PARA O CRESCIMENTO ESPIRITUAL

A busca do conhecimento teológico – 2 Pedro 3.18

LEITURA DIÁRIA

D | Mt 11.27 – a quem o Filho quiser revelar

S | 1Co 2.7 – mas falamos a sabedoria de Deus

T | 1Pe 3.15 – estando sempre preparados

Q | Lc 10.21 – e as revelaste aos pequeninos

Q | Jo 14.26 – esse vos ensinará todas as coisas

S | Ef 4.13 – pleno conhecimento do Filho

S | Lc 8.1 – A vós outros é dado conhecer

INTRODUÇÃO

Esta é a porta de entrada do mundo da busca do conhecimento teológico. Algumas das primeiras perguntas que se faz a respeito da teologia estão respondidas aqui. O que é Teologia?  Para que serve? Qual é o objeto do estudo? Qual é a fonte? Como estudar? Como organizar? Qual é a necessidade? Qual é a aplicação? Onde é usada? Todos esses questionamentos, e outros mais, serão estudados nesta lição, baseada no livro com o mesmo título deste autor [1].

Mergulhe nesta fascinante busca do conhecimento teológico, e comece a entender um pouco mais a respeito de Deus e Sua Criação. Entenda porque esse conhecimento é revelado somente para quem o busca com um coração humilde e símplice e “oculto aos sábios e instruídos” (Lc 10.21). Descubra como a Teologia pode ser praticada na Igreja, na comunidade, na sociedade e na família, de forma que você se sinta parte do Reino de Deus, fazendo a Sua vontade. Fazendo teologia.

I. DEFINIÇÃO DE TEOLOGIA

No início da explicação do substantivo em seu dicionário, Buckland [2] define teologia da seguinte maneira:

… é a doutrina ou ciência de Deus. A Teologia cristã, aquela que mais nos interessa, é, na aceitação geral, a ciência da religião evangélica, como se acha ela revelada na Bíblia, desenvolvida na História, e continuada na vida progressiva da Igreja cristã. Religião e Teologia estão uma para com a outra na relação de vida e conhecimento, de prática e teoria. Um cristão é, necessariamente, participante da revelação de Cristo acerca de Deus: a fé baseia-se no conhecimento, e fazer teologia é simplesmente tornar a fé intelectualmente fortalecida, é definir e sistematizar o conhecimento sobre a qual ela repousa e para a qual ela, por sua vez, guia o crente.

A palavra “teologia” não se encontra na Bíblia, porém em sua forma simples é encontrada muitas vezes, tal como a frase: logion tou theou (oráculos de Deus), em Rm 3.2 ; 1Pe 4.11 e Hb 5.12 . Vários sinônimos são encontrados na Bíblia para “teologia”, são elas: “a sabedoria de Deus em mistério” (1Co 2.7); “o padrão das sãs palavras” (2Tm 1.13); a “verdade segundo a piedade” (Tt 1.1); “a doutrina” (Tt 1.9) [3].

A teologia é o estudo sobre Deus, sua criação e a sua relação com ela. Nas Sagradas Escrituras encontram-se passagens que permitem fazer analogias com a teologia. Dessa forma a teologia é semelhante à/ao [4]:

1. Sabedoria – porque ela discursa sobre Deus como a causa primeira: “Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória” (1Co 2.6-7);

2. Inteligência – porque ela observa os preceitos morais: “Dá-me entendimento, e guardarei a tua lei; de todo o coração a cumprirei.; As tuas mãos me fizeram e me afeiçoaram; ensina-me para que aprenda os teus mandamentos” (Sl 119.34; 73);

3. Conhecimento – porque ela recebe o divino ensino: “Ensina-me bom juízo e conhecimento, pois creio nos teus mandamentos” (Sl 119.66);

4. Prudência – porque ela acata os conselhos: “Os teus mandamentos me fazem mais sábio que os meus inimigos; porque, aqueles, eu os tenho sempre comigo” (Sl 119.98);

5. Arte – porque ela trabalha pela fé “Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1Co 3.11).

A busca do conhecimento teológico é causada por um processo que se fragmenta em duas partes, a primeira é causada por Deus, que conhece a si mesmo, – “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11.27) – onde Ele é simultaneamente o “objeto conhecido”, “o conhecimento” e “o conhecedor” e revela a si mesmo à humanidade, conforme seu decreto. A segunda é causada pela ideia inerente que o ser humano tem de Deus: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas.” (Rm 1.20). O objetivo se completa no encontro dessas duas partes [5].

Ainda em relação ao conhecimento inerente que a humanidade tem de Deus, o texto de Romanos 2.14-15 completa o raciocínio. A lei a que Paulo se refere no texto é a lei mosaica do Antigo Testamento. Isso prova que Deus deixou um testemunho de Si mesmo no coração das pessoas de forma que a humanidade nunca ficou sem saber sobre a existência de seu criador, e nunca deixou de buscá-lo, ainda que de forma ineficiente, através de outras religiões.

II BÍBLIA: A FONTE DA TEOLOGIA

A teologia é encontrada na Bíblia de forma elementar e primária. Nela se encontra a “teologia concentrada, potencial e eminente”. Dessa forma, a Bíblia é geradora e contém toda a teologia cristã. A Bíblia não é a voz nua de Deus, mas, sim, palavra recebida e compreendida. É a revelação de Deus dirigida ao homem que, inspirado por Ele, escreve o Texto Sagrado e a retransmite. Assim, a Palavra de Deus vem acompanhada pela palavra humana.

Na recepção da Palavra de Deus, o homem usa sua capacidade humana para entendê-la, e retransmiti-la, traduzida através da escrita para outras pessoas. Todo esse processo humano é processo teológico. A teologia que a Bíblia contém não está organizada metodicamente e sistematicamente. É teologia prática, histórica, da vida, ela se preocupa em relatar a história da salvação [6].

A Bíblia exige que se faça teologia, aprofundando-se na fé, conforme os seis pontos abaixo. Inúmeros textos no Antigo Testamento conclamam para que se aprofunde no conhecimento da palavra do Senhor, tal como a perícope no Salmo 119.97-104 que inicia assim: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia!”. No Novo Testamento os textos que nos induzem à busca do conhecimento teológico são [7]:

1. “A uns estabeleceu Deus na igreja […] mestres;” (1Co 12.28a). O mestre é o que tem a seu encargo a exposição dos ensinamentos doutrinários do texto bíblico. A sua função é fazer teologia e, ensinar (At 5.42; 28.31); advertir (Cl 1.28), admoestar (1Tm 4.11), exortar (1Tm 6.2) e ser exemplo a todos (Rm 2.21). O mestre deve ser dedicado ao estudo para que possa ser eficaz em seu trabalho (Rm 12.7). O ministério de mestre é um dom dado por Cristo (Ef 4.8), para o aperfeiçoamento de sua igreja (Ef 4.12).

2. “mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, […] Mas Deus no-la revelou pelo Espírito […]” (1Co 2.7; 10). Aquele que busca entender a essência do conhecimento da fé, encontra na passagem de 1Co 1.1-3.4 um aprofundamento da teologia cristã. Mas os dois versículos citados destacam a superioridade da sabedoria do alto, divina, que se opõe à sabedoria humana, de forma a parecer loucura para esta (1Co 1.18). Até porque o cristianismo não é filosófico. mas histórico, e conta a história da salvação humana.

3. “estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1Pe 3.15). O texto chave para quem se prepara para um embate apologético para a defesa da fé. A fé cristã requer que aquele que busca o conhecimento teológico esteja preparado com o conhecimento das Sagradas Escrituras para que possa responder pela Palavra, toda e qualquer argumentação contra o cristianismo. Porém sempre com “com mansidão e temor, com boa consciência” (v. 16).

4. “A vós outros vos é dado conhecer o mistério do reino de Deus” (Mc 4.11). A busca do conhecimento teológico deverá ser com a graça de Deus para que se possa alcançar o entendimento do mistério do reino de Deus.

5. “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos” (Lc 10.21). Deus, em sua bondade, concede às pessoas humildes, o entendimento das coisas do alto, de graça, como um dom, de forma que não é necessário que as pessoas tenham acesso às mais altas instituições de ensino existentes para conhecer os mistérios de Deus.

6. “Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade” (Jo 16.13). Essa palavra é para todos os que buscam o conhecimento teológico, pois são discípulos do Espirito Santo. E este estará continuamente ampliando a percepção humana acerca das coisas divinas “mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar-se de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26).

III COMO ESTUDAR TEOLOGIA

São requeridas algumas disposições básicas de quem se propõe à busca do conhecimento teológico, conforme os dez pontos abaixo [8]. A exigência é da própria teologia, porquanto se dá à tarefa de refletir sobre a fé e sobre tudo o que resulta a partir dela. Portanto, deve-se buscar o conhecimento teológico:

1. Com amor por Deus e pela sua obra, com interesse de ajudar as pessoas que são imagem e semelhança de Deus. Não fazer por interesse financeiro ou para seguir carreira, pois, então, tornar-se-ia um trabalho como qualquer outro e isso poderia levar ao aborrecimento.

2. Com interesse em aprofundar a sua fé, já que a teologia é o estudo sobre a fé, e sobre Deus. Gostar de saber como ter fé, porque ter fé e como aumentá-la é próprio de quem se interessa por Deus. O interesse daquele que busca o conhecimento teológico deve ser focado nas coisas do alto: “porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6.21).

3. Com o desejo de aplicar o conhecimento adquirido em ajudar o povo de Deus oprimido e enfraquecido a se libertar das amarras do pecado e direcioná-lo para o caminho da salvação em Cristo, já que este é o grande projeto de Deus.

4. Para trabalhar para Deus, apesar das dificuldades, e alcançar o prazer gratificante de colaborar para o reino de Deus.

5. Aplicando-se aos estudos, à pesquisa para ampliar o conhecimento, e isso é uma atitude perene, já que o teólogo nunca para de adquirir mais conhecimento “Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13).

6. Desviando-se das heresias propagadas pelos meios de comunicação e por pessoas de má fé e auxiliando o povo de Deus a ter acesso às verdades da Palavra de Deus “para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef 4.14).

7. Evitando o superficialismo, ou a pouca profundidade nos estudos. Pois, estudar sem refletir e sem pesquisar para ampliar os seus conhecimentos, favorecerá o sensacionalismo e a satisfação emocional, e nunca conseguirá transmitir o que não conseguiu alcançar.

8. Com humildade, reconhecendo os seus limites, curvando-se diante da Razão Divina que supera toda a razão humana. Jesus explica a Nicodemos, um mestre do judaísmo, que a mente humana é insuficiente para compreender as realidades terrenas, tampouco é suficiente para compreender as realidades divinas “Se, tratando de coisas terrenas, não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?” (Jo 3.12).

9. Com modéstia, sabendo que o intelecto do ser humano é infinitamente menor do que o de Deus. O que busca o conhecimento teológico deverá explanar somente sobre aquilo de que tem certeza sobre as coisas divinas, sabendo que Deus é o objeto e o sujeito da teologia que se revela ao homem na medida em que Ele quer: “Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11.27); ver também 1Co 2.10.

10. Aceitando que a maior compreensão a que o homem pode chegar acerca de Deus é a de que Ele é incompreensível. E evitando a tentação de querer explicar sobre Deus o que não alcançou compreensão nem para si. A arrogância contradiz o amor, por isso (1Co 8.2-3).

CONCLUSÃO

Onde está a recompensa do que busca o conhecimento teológico? Pois se todo o trabalho empreendido não trouxer um prazer ou recompensa, então o teólogo ficará desmotivado e a sua busca de conhecimento se tornará de curta duração por não haver mais motivação que o incentive a profundar-se. A recompensa daquele que busca o conhecimento teológico está exatamente em seu objetivo final, que é Deus. A alegria das descobertas dos mistérios de Deus que são revelados exclusivamente àqueles que o buscam, conforme explica Jesus: “A vós outros é dado conhecer os mistérios do reino de Deus; aos demais, fala-se por parábolas, para que, vendo, não vejam; e, ouvindo, não entendam” (Lc 8.10) [9].


[1] ERDOS, Francisco. Introdução à Teologia. Arapongas: Teologia.Plus, 2019. Disponível em: <https://www.amazon.com.br/dp/B07X2LN4M8>.

[2] BUCKLAND, A. R. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Vida, 1999. p. 422.

[3] TURRETINI, François. Compêndio de Teologia Apologética. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. v. 1, pp. 39-40.

[4] Idem, p. 60.

[5] Idem, p. 43.

[6] BOFF, Clodovis. Teoria do Método Teológico. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2012. pp. 562-563.

[7] Idem, pp. 563-568.

[8] Idem, p. 525-544.

[9] Idem, p. 405-406.

Francisco Erdos
Francisco Erdos

Doutor em Teologia pela PUC-PR. Mestre em Teologia pela PUC-PR. Pós-graduado em Teologia Bíblica pela PUC-PR. Graduado em Teologia (integralização de créditos) pelo Centro de Ensino Superior de Maringá CESUMAR. Graduado em Teologia pelo Instituto e Seminário Bíblico de Londrina ISBL. Licenciado ao Ministério Pastoral pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Casado com Ivanilza Erdos e têm dois filhos: Natan Henrique e Lucas Vinícius. Ver + Currículo

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