
O Filho Pródigo, Filho Eleito
ORIENTAÇÕES PARA O CRESCIMENTO ESPIRITUAL
“Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida” – Lucas 15.11-32
LEITURA DIÁRIA
D | Lc 23.43 : … hoje estarás comigo no paraíso.
S | Mt 13.37 : O que semeia é o Filho do Homem;
T | Ap 14.15 : hora de ceifar, … amadureceu!
Q | Lc 15.6 : … achei a minha ovelha perdida.
Q | Lc 15.20 : … seu pai… o abraçou, e beijou.
S | Lc 15.23 : Comamos e regozijemo-nos,
S | Lc 15.24 : … meu filho estava morto e reviveu,
INTRODUÇÃO
Não existe tristeza maior para uma família do que um ente querido que esteja afastado da Igreja. Os questionamentos povoam a mente dos familiares: “E se vier a morrer longe da Igreja, o que será de sua alma?”, “Será que Deus vai perdoar e trazer de volta?”, “Deus vai deixar por conta ou vai proteger a sua vida?”. Os clamores em favor da pessoa que se afastou dos caminhos do Senhor se tornam um dos assuntos principais tratados nas “conversas” entre cada um dos familiares e Deus nos momentos de oração.
No capítulo 15 de seu Evangelho “Lucas reuniu três parábolas sobre os ensinos de Jesus sobre coisas que estavam perdidas, concentrando a atenção na misericórdia de Deus em resgatar e receber o seu povo, bem como na atitude apropriada ao considerar a salvação dos outros” [1]. O que nos leva a reconsiderar o valor que damos às pessoas que se afastam da Igreja e verificar, na Parábola do Filho Pródigo, a forma correta de tratar com os afastados.
I. Saindo de Casa (Lucas 15.11-16).
A falta de sabedoria, associada com a inexperiência, levou o filho mais novo a uma atitude extremada (vv. 11, 12). Ele pensou que tudo aquilo que ele tinha com o seu pai, iria durar o resto da vida. É certo que ele, estando junto ao pai, não podia fazer tudo aquilo que gostaria de fazer, como o filho mais velho reclamou no vs. 29, mas há de se considerar que a liberdade de se fazer o que se quer, no momento inapropriado, certamente não trará real benefício. Ou, aquela hora ainda não é o tempo adequado para receber o que está pedindo.
Deus permitiu que ele usasse da sua livre agência, de sua livre escolha, para ir para a direção que desejasse. Achava que estava preso em um sistema familiar e religioso. Criticava a liderança religiosa e familiar de seu pai e queria pegar tudo o que seu pai havia conquistado para ele e ir embora. Porém ele não iria conseguir valorizar o que o pai lhe dera porque ele mesmo não havia feito nenhum esforço para conquistar aquela herança.
O jovem estava cansado do controle dos pais, ele queria liberdade para fazer o que quisesse! Se fosse para seguir a lei em Dt 21.17 com relação à divisão dos bens, dois terços eram do irmão mais velho e um terço era do mais novo. Imaginem a dor de cabeça causada pelo mais novo! Ter que vender uma terça parte de tudo para levantar o dinheiro para dar a ele. Que tristeza que foi causada ao pai! [2]
O moço foi para longe do pai e gastou tudo o que tinha com libertinagem e devassidão, vivendo relaxadamente, achando que os seus bens iriam durar para sempre, mas um dia acabou! O v. 24 o descreve como um morto e perdido. Morto espiritualmente e perdido no mundo.
O seu dinheiro acabou e veio uma crise econômica na região. Uma hora ele comia e bebia do bom e do melhor, pouco tempo depois ele estava sem dinheiro e passando fome. Uma hora ele era o filho do patrão, não fazia muito esforço e os trabalhos mais pesados eram feitos pelos trabalhadores de seu pai. Depois ele estava fazendo um trabalho humilhante, que era cuidar de porcos. Os judeus não comiam carne de porco (vv. 13-15). O judeu considerava o porco um animal imundo, cf Lv 11.7, por isso era um trabalho degradante, e mais, os judeus tinham um ditado com a seguinte expressão: “Que a maldição caia sobre o homem que cuida de porcos” [3]. Até mesmo as alfarrobas [4] que eram dadas aos porcos, ele sentia vontade de comer (v. 16).
Os críticos o veriam primeiro como um gastador irresponsável, que havia tirado os bens da casa do seu pai e estava torrando com vícios e devassidão. Depois criticariam a miséria em que estava posteriormente: doente, faminto, com as roupas rasgadas e os pés descalços.
Questionariam se uma pessoa dessas estaria contada entre os salvos. Como é salvo se prefere estar na lama, na podridão, fora da casa de Deus? Vale a pena chorar por uma pessoa dessas? Vale a pena sofrer por uma pessoa dessas? Vale a pena se preocupar por uma pessoa dessas? Vale a pena gastar o nosso tempo e recursos por uma pessoa dessas? É grande o desprezo por aquele que fracassa na vida espiritual, social e familiar.
II. Caindo em si (Lucas 15.17-24)
Então o filho pródigo se lembrou de como era tratado e o que comia na casa do pai. Conforme diz a expressão popular: “Ele era feliz e não sabia!” o moço conseguiu dar o devido valor ao que tinha somente quando estava na miséria. Até mesmo os trabalhadores de seu pai comiam com fartura e ele não tinha mais o que comer (v. 17).
Chegou a hora de pedir perdão. De reconhecer o erro cometido e que não fora agradecido a Deus e a seu pai. E também que, não tinha direito nenhum de reclamar de sua sorte e, que se fosse aceito como um dos trabalhadores do seu pai, para ele seria vantajoso do que ficar na situação em que estava (vv. 18, 19). Naquelas condições não dava mais para ficar. Foi de volta para casa.
Certamente o pai ficava olhando, ao longe, esperando pela volta do filho, pois foi ele mesmo quem o avistou, ao longe. O pai sabia que o moço vinha derrotado, já sabia de antemão que o mundo quase acabaria com ele e por isso se compadeceu. Correu ao seu encontro para encurtar a distância, o abraçou e beijou, para demonstrar o seu amor, e também demonstrar que ele era bem-vindo de volta para casa (v. 20).
Um dos requisitos básicos para que volta para casa é reconhecer que errou em sair. O moço disse que havia pecado contra Deus e contra o pai dele. Havia desprezado tudo aquilo que o pai havia feito por ele, havia desprezado a sua casa e o seu conforto. Por isso já contava que o pai o puniria e o aceitaria por perto somente na condição de um trabalhador (v. 21). Mas o pai mandou que fossem trocadas as vestimentas do moço pela melhor roupa, que fosse colocado um anel no dedo e os calçados nos pés (v. 22). A melhor roupa simboliza o nível social elevado, o anel poderia indicar autoridade [5].
Foi organizada uma festa para recepcionar o filho que estava morto, perdido, mas que reviveu e foi achado. A alegria tomou conta daquela casa porque o pai, que estivera abatido com a saída do filho mais novo, teve a alegria de vê-lo de volta na casa são e salvo (vv. 23,24).
O que a família e as pessoas pensam a respeito daquele que se afastou da Igreja? Diante das pessoas, o moço estava desviado, mas Deus o havia escolhido. O moço desta parábola era um eleito. Ele sempre esteve seguro nas mãos de Deus (Jo 10.28) mesmo que quisesse o moço não conseguiria fazer nada para perder a sua salvação. Mesmo que estivesse na última hora de vida, Deus o traria de volta para a Sua comunhão, conforme Ele fez com o ladrão na cruz (Lc 23.43).
Mas como poderemos saber acerca da salvação final daquele que está afastado? Poderá alguém pensar a respeito de alguém que tenha morrido afastado da Igreja: “Ele morreu no vício e no lamaçal de pecado! Poderia ter alcançado salvação estando nessas condições?” Antes de morrer a pessoa teve o seu momento de comunhão com Deus, conseguiu se arrepender antes?
Com relação a quem é salvo ou não é, não sabemos a realidade, pois no meio da Igreja dos salvos (trigo) estão aqueles que não são salvos (joio) (Mt 13.38). Somente será possível saber que é salvo ou não na grande colheita que Jesus fará no fim dos tempos (Ap 14.14-16). O mesmo se aplica aos que estão afastados da Igreja.
III. A crítica do irmão mais velho (Lucas 15.25-32)
O irmão mais velho certamente estivera trabalhando, cuidando dos interesses de seu pai. Deve ter estranhado que no final de um dia normal de trabalho estivessem fazendo festa com música e dança em casa (v. 25).
O criado informou sobre a alegria que o pai estava sentindo. O pai que passou noites e noites sem dormir, preocupado com o filho que foi embora. Agora ele o tem de volta, são e salvo. Com certeza ele quer festejar a recuperação do filho sabendo que este aprendera a lição e nunca mais iria embora (vv. 26, 27).
Ao contrário do pai, o mais velho indignado não queria saber do irmão mais novo. O pai queria que eles voltassem a se dar bem um com o outro (v. 28). Mas a resposta vem em tom de reclamação: “Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos;” (v. 29). A justiça própria do filho mais velho é evidenciada aqui, realçando a sua obediência.
O mais velho sempre obedeceu às regras e sempre deixou de lado os seus próprios interesses. Ainda assim, o pai estava dando toda a atenção para o desviado que desperdiçou todos os bens do pai com mulheres da vida fácil, fazendo um churrasco para ele (v. 30)! E ainda poderia ser que o pai quisesse dar um jeito de favorecer o mais novo de alguma forma, tirando da sua parte para dar ao outro.
A parte “desperdiçou os teus bens”. Se considerarmos que a partilha dos bens já estava feita e o mais velho já estava em poder dos dois terços, não era verdade a declaração de que o moço havia gastado os bens do pai [6]. Porém o pai lhe responde que a herança dele estava segura, era tudo dele (v. 31).
O que mais interessa ao pai neste momento é se alegrar pelo filho que estava perdido e reviveu. “era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos”, não havia coisa melhor a fazer pois o coração do pai estava jubiloso, tal como o coração do pastor que encontrou a sua ovelha perdida: “E, indo para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lucas 15:6-7).
Conclusão
Finalizamos com a explicação de Hendriksen: “Qual, pois, é a lição central? O pai claramente simboliza o Pai celestial, que representa a Santa Trindade, a Deus com todo seu amor anelante. O filho perdido em seu regresso penitente é o pecador penitente; daí, certamente também os “publicanos e pecadores” que tinham encontrado em Jesus seu Salvador e Amigo, e que agora estavam ouvindo-o intensamente. E o filho mais velho indica claramente os fariseus e escribas justos a seus próprios olhos, assim como também agiam as 99 ovelhas da primeira parábola [a ovelha perdida]. O tema central é, portanto, “o amor anelante do pai pelos perdidos”. O Pai os busca, os traz de volta e se alegra em sua conversão operada pelo Espírito” [7].
[3] Ibidem, p. 298
[4] ALFARROBEIRA In: Wikipedia. Disponível em<https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfarrobeira>. Acesso em 21-07-2019.
[5] HENDRIKSEN, op. Cit., p. 301.
[6] Ibidem, p. 303.
[7] Ibidem, p. 303-304.