O conhecimento que Mateus tinha das línguas grega e aramaica influenciou significativamente o conteúdo e o estilo de seu Evangelho, permitindo que ele comunicasse efetivamente a mensagem de Jesus a públicos diversos. Essa habilidade linguística não apenas moldou a maneira como ele apresentou os ensinamentos de Jesus, mas também facilitou a integração das profecias do Antigo Testamento, reforçando seus objetivos teológicos.

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Proficiência linguística e envolvimento do público

Mateus era um cobrador de impostos em Cafarnaum, uma região conhecida como “Galileia dos gentios”, o que exigia fluência tanto em grego quanto em aramaico. Essa fluência nas duas línguas o posicionou de forma única para atingir públicos judeus e gentios. Seu Evangelho é frequentemente visto como uma ponte entre esses dois grupos, pois ele frequentemente cita o Antigo Testamento para demonstrar que Jesus é o cumprimento da profecia judaica. Ao fazer isso, ele apela aos leitores judeus, ao mesmo tempo em que torna o texto acessível aos gentios que podem ter sido mais familiarizados com o grego.

O uso do grego permitiu que Mateus articulasse conceitos teológicos complexos em uma linguagem que era amplamente compreendida no mundo helenístico. Sua habilidade de incorporar frases e expressões idiomáticas aramaicas em sua escrita enriqueceu ainda mais o texto, fornecendo profundidade e autenticidade às palavras de Jesus. Por exemplo, Mateus inclui a frase “ Eli, Eli, lamá sabactâni?” (Mateus 27:46), que ressoa com seu público judeu ao mesmo tempo em que mostra sua compreensão de ambas as línguas.


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Integração de citações do Antigo Testamento

A familiaridade de Mateus com as Escrituras Hebraicas, provavelmente por meio de uma compreensão tanto do hebraico quanto do aramaico, é evidente em seu uso extensivo de citações do Antigo Testamento. Ele cita profecias que afirmam Jesus como o Messias, frequentemente usando uma combinação de traduções da Septuaginta (LXX) e textos originais hebraicos. Essa abordagem dupla permite que ele apresente uma compreensão matizada das Escrituras que se alinha com seu propósito teológico.

Por exemplo, Mateus 1:22-23 faz referência a Isaías 7:14, enfatizando o nascimento virginal como um cumprimento da profecia. Sua escolha de citar a Septuaginta em alguns casos, enquanto parafraseia ou traduz do hebraico em outros, demonstra sua capacidade de navegar entre esses textos com fluidez. Esse método não apenas valida a identidade messiânica de Jesus, mas também reforça o argumento de Mateus de que a vida de Jesus foi uma continuação do plano redentor de Deus para Israel.

Contexto cultural e temas teológicos

O Evangelho de Mateus é rico em temas que ressoam com o público judeu, como o Reino dos Céus, a retidão e a observância da lei. Sua experiência como cobrador de impostos pode ter lhe dado percepções únicas sobre questões de justiça social e as implicações morais da riqueza e do poder, que são temas proeminentes em toda a sua escrita.

Além disso, ao abordar questões pertinentes tanto a judeus quanto a gentios, Mateus comunica efetivamente a natureza universal da mensagem de Jesus. Seu Evangelho enfatiza que Jesus veio não apenas para as ovelhas perdidas de Israel, mas para toda a humanidade (Mateus 28:19-20), refletindo sua compreensão da fidelidade da aliança de Deus se estendendo além das fronteiras étnicas.

Conclusão

A familiaridade de Mateus com o grego e o aramaico impactou profundamente o conteúdo e a estrutura de seu Evangelho. Sua habilidade linguística facilitou a comunicação eficaz entre as divisões culturais, ao mesmo tempo em que permitiu uma rica integração da profecia do Antigo Testamento. Ao navegar habilmente por essas línguas, Mateus elaborou uma narrativa que afirma Jesus como o Messias para judeus e gentios, ressaltando a inclusividade da mensagem do Evangelho. Essa destreza linguística não apenas aprimora nossa compreensão das intenções teológicas de Mateus, mas também exemplifica como Deus pode usar origens diversas para Seus propósitos ao revelar a verdade divina por meio das Escrituras.

CALAHAN, Jean. Was the gospel of Matthew originally written in Aramaic? Disponível em: <https://www.neverthirsty.org/bible-qa/qa-archives/question/was-the-gospel-of-matthew-originally-written-in-aramaic/> acesso em 21/09/2024.

ENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Mateus – Volume 1. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, pp. 142-145.

Francisco Erdos
Francisco Erdos

Doutor em Teologia pela PUC-PR. Mestre em Teologia pela PUC-PR. Pós-graduado em Teologia Bíblica pela PUC-PR. Graduado em Teologia (integralização de créditos) pelo Centro de Ensino Superior de Maringá CESUMAR. Graduado em Teologia pelo Instituto e Seminário Bíblico de Londrina ISBL. Licenciado ao Ministério Pastoral pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Casado com Ivanilza Erdos e têm dois filhos: Natan Henrique e Lucas Vinícius. Ver + Currículo

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